Regressando a uma terra inquieta e perturbada

8 de  Novembro de 2013
Depois de uns 80 dias viajados por Portugal e Cabo Verde, estou de regresso a Moçambique. Foram dias cheios de contrastes, de alegrias e tristezas que destaco:
1º O convívio com os familiares e amigos, muitos reencontrados depois de alguns anos. Nos mais diversos sítios de Portugal, da minha aldeia-natal, Malhada Sorda, nas terras de Riba-Côa, a Beja, Lisboa, Porto, VilaReal de Trás-os-Montes e Coimbra. Foi gratificante, sobretudo se se tiver em conta que, nos meus 67 anos, também já vivo muito de recordações!
2º O excelente acolhimento que a mim e ao Isaías foi dado na apresentação da nossa experiência pastoral em Moçambique que reflectimos no livro UMA IGREJA DE TODOS E DE ALGUÉM, agora ainda com mais entusiasmo e esperança de eficácia já que sentimos que, agora, o Papa está do nosso lado. Já deixei isto patente em relato anterior sobre O MEU OUTUBRO MISSIONÁRIO.
3º A Páscoa do Bispo António Marcelino, o meu confidente da área hierárquica, que me acompanhou em todos os momentos desde o já longínquo retiro no Advento de 1967 em que tomámos a decisão de interrompermos o curso de teologia e partirmos em serviço missionário para Moçambique, Nem eu calculava a proximidade existencial entre ele e o recem-nomeado bispo de Nampula, Manuel Vieira Pinto que nos receberia em Agosto seguinte. Uma páscoa é sempre um misto de tristeza, sofrimento e esperançosa a legria. Partilhei, com a multidão daqueles e daquelas que beneficiiram dos dons e carismas desse homem de Deus que foi o Bispo Marcelino, das celebrações exequiais. Destas, guardarei, para sempre, a terna postura do seu sucessor, Bispo António Francisco, que mais me pareceu um sofrido órfão que, tal como eu, também parecia o seu confidente, mas, sobretudo, o seu mestre, tantas foram as vezes em que, ao longo das liturgias daqueles 2 dias, espontaneamente lhe saltavam da boca para fora “que consigo aprendemos” ou “tanto nos ensinou”. Obrigado, pois, também, ao Bispo António, por este testemunho tão humano e tão divino e, por isso, tão edificante! “Vede como eles se amam”.
 4º Porque, chegando ao avião, no assento ao meu lado, estava uma espantosa senhora que, não os tendo ainda, aparentava uns respetáveis 75-80 ano e é um verdadeiro poço de sabedoria de experiência feito. Não sendo da nossa Igreja – creio que nem crente – manifestou uma espantosa bondade e empenho pelo bem do próximo exercido neste país, agora amedrontado por todos os lados, sobretduo aqui no Maputo, como médica, antes e depois da Independência. Em quse tudo me parecia ouvi-la e estar a ver-me ao espelho. Por isso, as 10,5 h de voo foram muito mais curtas.
 Infelizmente, a onda de inquietação é generalizada nesta cidade principalmente pelos raptos que continuam a suceder-se. Porque o risco do rapto de crianças amedronta também os pobres.
 Um dado positivo: por enquanto continuam a acontecer manifestações de protesto o que sinaliza que o governo deste país tem de dat atenção e não prosseguir no caminho autista e militarista por que parece querer enveredar. Todos estão temerosos de que a guerra se instale de novo! Façamos tudo quanto está ao nosso alcance para que uma onde de bom senso e respeito pelo povo prevaleça.

5 DE OUTUBRO - DE MOÇAMBIQUE

30 de Outubro de 2013
Queridos Amigos do Povo Moçambicano
A minha intuição de há mais de 1 ano vai-se concretizando. Desde que Dlhakhama se posicionou na emblemática Gorongosa eu vislumbrei o cenário: ele força a situação, como pode, para obrigar a Frelimo à correcção do pacote eleitoral (CNE e STAE) e, de caminho, Guebuza a proveita a deixa para se perpetuar no poder imitando JES (Angola).
Há 1 ano eu acusava Dlhakhama de estar a fazer um favor a Guebuza. Muita gente dizia, em Moçambique, que ele recebia o seu para isso: fingir que era oposição democrática. Hoje acredito que não fosse um favor consciente, mas, pelo estado em que estamos, objectivamente, assim aconteceu.
Ao não conseguir alterar a constituição da República, Guebuza, fazendo jus aos seus dotes políticos (cf Alice Mabote), vem jogando, todas as pedras do seu xadrez, com o intuito inconfessado (cf texto de Salomão Moiane anexo) de se perpetuar no poder. Basta que não haja eleições, sejam elas transparentes ou opacas.
A imprensa livre de Moçambique tem feito o seu papel de esclarecimento. Veja-se o SAVANA nº 1033 e o texto de Salomão Moiane (Magazine Independente) que aqui utilizo, anexando, com a devida vénia.
 Na manhazinha de hoje,30 de Outubro, como em cada dia, estando em Lisboa, sintonizei a RDPAfrica para ter mais notícias de Moçambique… Um instante de esperança quando o locutor anuncia “Hoje, em Maputo, Plataforma da sociedade civil….”. Mas não era a mobilização das forças vivas da Nação para decidirem intervir em favor da Paz no país. …Algo de luta contra o HIV/Sida. Sobre a situação político-militar, nada. Desgraçadamente, em sintonia com aminha resposta a muitos amigos que me telefonam, o locutor anuncia uma entrevista no jornal PUBLICO (Lisboa), de Lourenço do Rosário, intitulada ““Moçambique vive uma situação de guerra não declarada”.
 É hora limite de exigirmos ao Presidente Guebuza que se submeta ao mais elementar bom senso de aceitar todas as mediações e conselhos da gente moçambicana que lhe exige PAZ e abandone todos os seus caprichos (cf Jorge Rebelo no Savana 1032).

Zé Luzia

O meu Outubro Missionário em Oeiras – S.João de Deus – Beja – Vila Real – Aveiro

31 de Outubro de 2013

Desde há anos que para mim não existe apenas o Dia Mundial das Missões, mas, antes, o OUTUBRO MISSIONÁRIO. Como o podem testemunhar os cristãos da Bobadela, dei, a esta oportunidade pastoral, todo o empenho que me foi possível, de forma a ajudar que as pessoas vivam de uma dilatada visão de Igreja. Horizontes largos, trazem mais vida.
Normalmente, estamos habituados a que, nestas circunstâncias, se peça ajuda, sobretudo monetária, para as Missões.
Não fiz isso. Quis, antes, partilhar a expoeriência de 40 anos de vida missionária em Nampula, ciente de que ela pode ser importante para a renovação da vida das Igrejas locais na Europa. Reflectida no livro UMA IGREJA DE TODOS E DE ALGUÉM, de que sou autor com a colaboração de gente experimentada, comigo, na criatividade pastoral em Nampula – Isaías Azevedo e Mónica Rainho Silva – entendi que passando por espaços paroquiais e diocesanos que quisessem receber este testemunho, seria uma excelente colaboração na animação pastoral de Portugal, meu país-natal.
Assim foi cordialmente acolhido pelos seus respectivos pastores e seus paroquianos ou diocesanos em:
1º Domingo de Outubro – dias 5 e 6 – Paróquia de Oeiras;
2º Domingo – dias 12 e 13 Paróquia deS.João de Deus –Lisboa;
Dia 19 – Dia Missionário da Diocese de Beja _ Grândola
3º Domingo – dia 20 – Paróquias da cidade de Beja: N.Srª do Carmo, Salvador e Sé.
4º Domingo – dias 26 e 27 – Vila Real – Paróquias da Cumieira e Sé.

FALECEU D.ANTÓNIO MARCELINO

9 de Outubro de 2013, Quarta 
PÁSCOAS

Do servo do Reino de Deus Bispo António Marcelino – Diocese de Aveiro - Portugal e da serva Maria Helena Sabonete – Paróquia de S.João Baptista do Marrere – Diocese de Nampula/Moçambique


Somos multidão aqueles que fomos bafejados pela graça de Deus na longa vida pastoral do Bispo António Marcelino (em “Pedaços de vida que geram vida” deixou testemunho de quanto lhe custava “engolir” o título nobiliárquico de Dom).
Partiu quando ainda muito eu precisava dele. Perdi um amigo e um confidente da minha vida de homem e de padre na peregrinação deste mundo. Imagino-o em alegre convívio com o Luis Manuel Osório, também meu companheiro de aventura africana (1968-1970) que há anos (2006) para lá nos precedeu.
O então Padre Marcelino deu-nos a primeira palavra de certeza e alento de que a intuição de partirmos para África era de levar por diante. Estávamos no 2º ano do curso de Teologia no Seminário dos Olivais (Lisboa). Ele veio de Portalegre pregar-nos o retiro de Advento em Dez 1967. E a semente deu frutos.
Sempre cúmplice e confidente, instigador nato de criatividade e desinstalação, acompanhou-me em todas as alegrias e esperanças, vicissitudes e (algumas) tristezas do meu percurso de padre. Até agora.
Por isso se dispôs a prefaciar as minhas duas publicações que têm a ver com o mais
importante da minha vida: 


UMA IGREJA DE TODOS E DE ALGUÉM (Março de 2012)

PENITÊNCIA E CONFISSÃO DOS PECADOS – Porque sim? 
(Setembro de 2013)

Já não tive tempo de lhe mostrar a edição deste último, saído apenas há dias.



Na apresentação do meu livro em Março de 2012
Na dor de me ver apartado de mais um amigo e companheiro de caminhada, celebro asua Páscoa convosco num sentido canto de louvor a Deus-Pai de Bondade que neste seu servo tanta misericórdia entre nós espalhou.







Serva Maria Helena Sabonete – Paróquia de S.João Baptista do Marrere – Diocese de Nampula/Moçambique


No mesmo dia, notícia semelhante me chega de Nampula: a mamã Maria Helena, a mulher discípula que tanto me ensinou nas lides de pastor em Nampula, também se pascoalizou anteontem, dia 8 de Outubro.










Sinto-me feliz por ter registado o valor desta mulher-discípula no livro uma Igreja de Todos e de Alguém (p.221). Na imagem acima preside, por volta de 1992, a uma celebração, na Comunidade da sede da Paróquia de S. João Batista do Marrere (Nampula-Moçambique) da qual era a “anciã”.
Podemos com toda a propriedade dizer que foi uma verdadeira mulher pastora.

ILHA DO SAL - A MOMENTOS DUMA NOVA PARTIDA, JÁ NASCEM AS VELHAS SAUDADES...

3 de Outubro DE 2013, Quinta 

Na noite de hoje embarcarei de regresso a Lisboa, depois de uma entrosada estadia em Cabo Verde, proporcionada pelo trabalho de formação dos cristãos nas paróquias de N.Srªda Luz e S.Vicente (Ilha de S.Vicente), de N.Srª do Livramento (Santo Antão) e N. Srª das Dores (Sal). 

A sessão de ontem à noite, aqui nos Espargos (Sal) dediquei-a a passar a técnica, simultaneamente e xperimentada, da Partilha da Palavra de Deus pelo método das 7 etapas. É algo de parecido com a conhecida Lectio Divina, de forma que os textos bíblicos sejam realmente saboreados e nos levem à conversão de atitudes e aos compromissos que uma fé esclarecida e empnehada implica.


Terminarei, daqui a 2 horas, com chave de ouro: uma Celebração Penitencial incluindo a Confissão dos Pecados em comunidade orante e celebrativa que já deixou as pessoas, em S.Vicente, muito surpreendidas e bem dispostas. Não suspeitavam que tal coisa fosse possível. 

Afinal, a Confissão, coisa tão desacreditada um pouco por toda a Europa, pode ser fonte de alegria e energia espiritual na vida. Sigo um rito e uma pedagogia que me foram surgindo na longa experiência das comunidades de Nampula, e que procura aliar, com muita seriedade e rigor, pela participação activa de todos os circunstantes, a escuta da Palavra e o rito litúrgico tradicional, enriquecido com facetas de inculturação segundo o contexto. 

 É a Palavra escutada e partilhada pela comunidade celebrante,que vai iluminando as nossas vidas, tanto individuais/pessoais como colectivas. A consequente Confissão dos Pecados surge como fruto muito espontâneo dessa partilha e das denúncias que tal Palavra nos sugira de modo mais ou menos explícito. Por isso, também o canto de invocação da Misericórdia de Deus aparece como natural expressão da comunidade e das pessoas penitentes e reconciliadas. 

Em anexo, deixo também um quase roteiro do que foi o trabalho de reflexão durante estes dias, da minha estadia aqui em Cabo Verde (Diocese do Mindelo) – 15 Setembro-3 de Outbro 2013) – tendo passado pelas Paróquias de N.Srªda Luz e S.Vicente (Ilha de S.Vicente), N.Srª do Rosário (Ilha de StºAntão) e de N.Srª das Dores (Sal): 

1. A Igreja de Jesus é de todos os batizados
2. Igreja comprometida na transformação do mundo ao serviço da Paz e da Justiça.

EM JEITO DE DESPEDIDA

1 Outubro de 2013, terça

Em Santo Antão, a ilha mais verde do Barlavento, o verde, embora mais consistente que em S.Vicente e Sal, é, mesmo assim, tímido, fazendo-me sentir saudades do luxuriante verde de Nampula, em tempo de chuvas, ou dos Montes do Guruè, durante todo o ano. Aqui é um verde que, a custo,  brota dos montes acastanhados.


No entanto, embora breve, foi rica a minha estadia:

1º Um acolhimento cordial por 3 jovens servidores da Igreja local que me recordaram a minha passagem por aqui, na altura também de apenas 24 h, em Abril de 2011, sendo, então, pároco O P.José Mario.

 
Padre Adriano Cabralm
actual Pároco de Ribeira Grande e
 Ponta do Sol
Na partilha da mesa e da conversa confirmei a sadia disponibilidade para servirem criativamente a sua Igreja diocesana. Fiquei particularmente sensibilizado pela sua atitude e análise críticas que revelam em relação a muito conservadorismo clerical ressurgente na Igreja católica, com o qual o próprio Papa Francisco, como o temos sobejamente sentido nos media, tem de se confrontar. E a esse conservadorismo emergente e ressurgente não escapam alguns sectores de Portugal e de Lisboa, em concreto, a ponto de já se dizer por aí se o novo patriarca, Manuel Clemente, será capaz de fazer, na sua cúria, o que o Papa Francisco vai já fAzendo no Vaticano!


2º Uma rápida visita à cidade de Ponta do Sol com edifícos de uma traça encantadora onde o ex-libris é, sem dúvida, o edifício da Câmara Municipal, em cuja praça sobressai, também, a igreja, para cuja requalificação o P.Adriano procura soluções e recursos financeiros.



De passagem pelo porto, uma partida de cartas /bisca ou sueca, como lhe quiserem chamar), partilhando a natural, espontânea e sadia convivência desta gente do mar.

Um senão: na cidade não faltam o que, a meu ver, são mamarrachos de linhas arquitectónicas e de cores completamente desajustadas. A Câmara devia velar mais por isto articulando melhor os seus técnicos com a todo-poderosa empresa SPENCER, que, pela sua acção, revela pouca alguma insensibilidade cultural pela beleza antiga e envolvente.

3º Uma presença de serviço religioso na magnífica igreja paroquial, sob o orago de N.SrªdoRosário para onde o P.Adriano me marcara missa para as 18:00 h antecedida de confissões. Foi ocasião de ter a experiência viva das marcas muito tradicionalistas da igreja popular de Cabo Verde. Por um lado, aceder á confissão dos pecados como necessidade de rotina. E isso, tanto em gente nova como idosa.

Mas, por outro, muitas das pessoas confessadas ao longo de 1 hora não ficariam para a celebração da eucaristia onde, por sinal, celebrámos a memória de S.Jerónimo, esse gigante da introdução da Bíblia na vida da Igreja no seu tempo (sec IV – ver aqui .

Apesar do seu insistente aviso na véspera, dia de Festa de S.Miguel Arcanjo, pouca gente respondeu ao convite do P. Adriano para comparecer no encontro onde eu partilharia o livro Uma Igreja de Todos e de Alguém. Contra-partida positiva: foram apenas meia dúzia de pessoas, incluindo os padres e o seminarista Bernardino que manifestaram bem quanto a tradição viva da nossa Igreja em Moçambique/Nampula tem de potencialidades a partilhar com esta Igreja local ainda muito necessitada de se converter a um rosto mais conciliar, menos de super-mercado espiritual de confissões individuais e mais ao espírito comunitário de gente corresponsável. Ficou o desafio a que os jovens padres desta diocese vão partilhar a nossa experiência de Moçambique… Todos poderemos ganhar por razões variadas.

EM SANTO ANTÃO

30 de Setembro de 2013, Segunda

Acabo de desembarcar na ilha mais verde do Barlavento caboverdeano e, depois de 1 h de estrada no táxi colectivo do Tony, chego a Ribeira Grande (Povoação), em cuja paróquia sou acolhido pela equipa pastoral agora integrada pelo Pároco, P.Adriano Cabral, pelo P.Eliseu Lopes (ordenado neste mês de Julho) e pelo seminarista Bernardino, em estágio.

A residência é cuidada pelo senhor Pedro da Mata que, assim, deixa livres os padres dessas preocupações e assegura a continuidade, mesmo quando os padres possam ser transferidos como acaba de acontecer ao P. José Mário que daqui saiu para tomar conta da paróquia da Boavista.

Depois de 5 sessões de trabalho de formação com os agentes pastorais da Paróquia de N.Srªda Luz (Catedral), tive intervenção similar embora mais curta, na Paróquia de S.Vicente, a mais nova da Ilha, criada aquando da vinda do actual Bispo Ildo, então padre do Patriarcado de Lisboa, em2005.

O desígnio deste bispo é incutir um verdadeiro ritmo de renovação segundo o Vaticano II cujos 50 anos ainda estamos a celebrar neste proclamado Ano da Fé que vai terminar na festa de Cristo-Rei (24 de Novembro).


O Bispo Ildo, que interinamente assegurado a vida da paróquia S.Vicente até à tomada de posse do novo pároco no domingo, 6 Out, dá algumas orientações e apresenta-me à assembleia com a qual eu celebrarei a Eucaristia. Dali seguirá para a outra paróquia, Srª da Luz, fazer o mesmo serviço.

UMA IGREJA-POVO

29 de Setembro de 2013, Domingo

Na tarde de domingo, 29, animámos, eu e o Bispo, uma tarde inteira de formação de 30 catequistas das 12 comunidades da paróquia de S.Vicente, afinando a temática pelo mesmo diapasão conciliar.

Catequistas: ministros participantes da tarefa do Bispo de ENSINAR e ANUNCIAR O EVANGELHO.
Foi hospedeira do encontro a comunidade de S.Pedro que, no final, nos serviria um saboroso lanchinho em que não faltou a mureia frita, o cuscus e outros bolinmhos/biscoitos.


Nota muito desagradável e, para mim, surpreendente, porque ainda me não confrontara com tal coisa: a bossalidade também começa a mostrar-se nestas ilhas pacatas de morna e morabeza. Um vizinho perturbaria o nosso sossego com uma aparelhagem aos berros. Nem sequer era para atrair negócio. Simplesmente exibir-se. Tão mal educado e sem modos que não deu atenção nem aos apelos dos cristãos locais, nem depois aos meus e aos do bispo. Baixou por alguns instantes com a minha abordagem, e, passados us 15 m voltou a atordoar-nos. E assim tivemos de trabalhar durante mais 1 hora. Caso de polícia? Não só! De cultura!

Como propalou o meu amigo P.Batalha, o Vaticano II foi um autêntico furacão para um Novo Pentecostes tornando a Igreja mais apta à sua missão: anunciar Jesus Cristo, única esperança da salvação da Humanidade!

Uma Igreja-Povo, rede de pequenas comunidades ministeriais onde cada pessoa encontre e desempenhe, em corresponsabilidade, o seu papel e a sua missão; onde os pastores mais responsáveis – padres e bispos – saibam fomentar a participação corresponsável de todos e de cada um, eis o retrato da Igreja que o Papa Francisco intenta ao utilizar a metáfora tão expressiva do “cheiro do rebanho”. Esta tem sido a minha apaixonante experiência de cristão, de cidadão e de padre em Nampula, há 45 anos, sendo que, de 1968 a 2001, foi sob a liderança sempre desafiante à criatividade do Bispo Manuel Vieira Pinto.

O meu trabalho não tem sido mais do que uma partilha desta experiência. Como material de suporte didáctico tenho utilizado o excelente material produzido pelo Lumko Institut da Conferência dos Bispos da África do Sul de que, logo que o tempo mo permita, vos deixarei aqui algumas imagens.

DIA DE S.VICENTE DE PAULO

27 de Setembro de 2013, sexta


Hoje celebramos a festa litúrgica desse gigante da caridade eficaz que nos inícios do sec XVII surgiu como modelo de pastor exemplar e operativo. O seu carisma ficou concretizado, até aos nossso dias, não só com a criação de uma obra para homens – Padres da Congregação da Missão (Vicentinos) - e outra para mulheres – Irmãs da Caridade – presentes, hoje, em todas as latitudes do planeta,mas também com as famosas Conferências de S.Vicente de Paulo agregando, por todo o mundo católico, milhares e milhares de pessoas de todas as condições socio-económicas desejosas de “fazer bem sem olhar a quem”. 

Delas ouvi falar já nos meus tempos de menino do Liceu da Guarda. Guardo ainda os rostos de homens e mulheres zelosos que via, à porta das igrejas, recolher ofertas para socorrer os pobres daqueles tempos. Reencontrá-las-ia, com o mesmo intuito generoso, em Lisboa, quando aceitei responsabilidades pastorais na Bobadela (2004-2011). 


A sua herança espiritual, infelizmente de flagrante actualidade no nosso tempo infestado de ladrões (sobretudo da promiscuidade da política com a economia e a finança) está bem expressa nestas palavras emblemáticas “Servindo os pobres, serve-se Jesus Cristo”, qual eco do Evangelho, tornando-se ainda mais concretas quando diz “Se durante o tempo de oração tiverdes de levar um medicamento ou qualquer auxílio a um pobre, ide tranquilamente, oferecendo a Deus essa boa obra como prolongamento da oração”.



Aqui no Mindelo, também conheci instituições nascidas da “urgência do Coração de Jesus”, 


É o caso de “Irmãos Unidos” que cuida de rapazes que, por qualquer razão, sobretudo familiar, carecem de acompanhamento na ocupação do seu tempo e nos seus estudos.

É o caso do Jardim de Infância “Bom Pastor”.

Visitei-os na manhã de hoje. Ali, como em cada canto deste país ilhéu cada estrangeiro que muito de si, dos seus genes e da sua cultura está por cá semeada. E isso torna-se familiar e encantador.


É o caso da “Sopa dos Pobres” para idosos, da Igreja do Nazareno, cujo pastor ontem conheci à porta da empresa Frescomar que, a esta e às instituições já referidas e a outras similares do Mindelo, providencia apoio alimentar quotidiano da sua matéria prima: peixe de excelente qualidade.








Tive a dita de visitar a FRESCOMAR por simpático convite da responsável da acção social da empresa, Sílvia Nascimento.

Ao meu lado direito a mãe Filipa que, depois de reformada, pediu para continuar a prestar a sua ajuda na fábrica: “que ficaria a fazer em casa?”, pergunta. Assim está na companhia de outros descendentes que já ali trabalham também.






Amanhã, 25, é Feriado em Moçambique (Aniversário da Luta Armada de Libertação Nacional)


24 de Setembro de 2013 

Celebro esta efeméride moçambicana recordando,    

a 24, os 40 anos da proclamação da independência daGuiné-Bissau (de tão triste evolução), evocando a figura gigante de Amilcar Cabral, e os 46 anos da chegada do Bispo Manuel Vieira Pinto a Nampula que, nesse dia, deixaria mal-dispostos os portugueses que o aguardavam no aeroporto de Nampula e menos entendidos sobre os ventos da história, quando levantou uma criança negra em direcção ao sol, provocando, com tal gesto,  o entusiasmente alarido dos indígenas locais. Gesto profético que lhe custaria muito caro: a expulsão em Abril de 1974: como famigerado traidor à Patria e indesejável em território português!

Mas o tempo foge, mesmo nestas remansadas terras da morna onde, quando estamos fora, pensamos que há tempo para tudo.

 Tive um domingo recheado. Muito diferente do que me é habitual quando estou meio das comunidades – mais numerosas – em Nampula, onde, com uma única comunidade, gasto bem todo o tempo pastoral de domingo. Aqui, comecei com uma eucaristia  no povoado de Salamansa, depois de fazer uns 20 Kms de estrada de montanha, tendo o cenário das altas montanhas escuras e quase rapadas, apesar de estarmos no início do tempo das (poucas) chuvas). Perguntava-me pelo caminho: mas onde está a gente? Subia e descia sem vislumbrar vivalma. Nem pássro. A uns 2 Kms da Baía das Gatas, viro à esquerda e eis-me a chegar a uma aldeia de pescadores. Avanço lentamente, para ver com olhos de ver esta realidade original caboverdeana, enquanto me aproximo da linda capela da comunidade, sobranceira ao mar, em baixo a uns 500 m em linha recta. De ressaltar, na celebração, o excelente coro animado com exultantes violas e uma improvisada maraca na mão do regente. Missa animada! De gente de todas as idades.

Depois corri para a cidade do Mindelo onde deveria celebrar a missa das 10:30 h na Igreja/catedral de N.Srª da Luz, com uma apurado grupo coral que projectava a sua beleza a partir do coro alto que se sobrepõe à entrada da igreja. Perfeição artísitica de cânticos tanto de Portugal como daqui.

Não tive tempo a perder e tive de correr para a aldeia de S.Pedro, aonde se chega passando pelo aeroporto

Cesária Évora. Uma airosa  igreja em construção, cujas peripécias de promessas cumpridas e por cumprir me relataria, hoje, o Bispo Ildo. Ficam-me 2 notas a salientar:
1.       A imponente igreja, já em uso e ainda não acabada (vai indo ao ritmo dos recursos disponíveis) tem ali muito de solidariedade e também, nos alicerces e nas paredes, o esforçado trabalho da comunidade que, à montanha, arrancou toda a pedra;
2.       Enquanto celebrava, via passarem, na rua, magotes de pessoas, sobretudo jovens, que mais pareciam gente sem pastor. Nós, deliciávamo-nos com a veemente profecia de Amós contra os ricos e a advertência de Jesus Ninguém pode servir a Deus e ao dinheiro.

Finalmente, tendo diante de nós o sempre enigmático cenário das montanhas vulcânicas sem vegetação, fomos brindados com um saboroso almoço em casa de João e Joana, os pais da dedicada apóstola desta comunidade, a Alice.

Entretanto, ao sabor da notícia de que o Papa Francisco pensaria em nomear uma mulher cardeal, continuei o trabalho de formação dos cristãos de N.Srª da Luz sobre este modo de sermos todos igreja de gente corresponsável, cada uma e cada uma com o seu papel e a sua função. À voz de um papa que diz que “somos todos iguais”, bem poderia subtitular o meu livro UMA IGREJA DE TODOS E DE ALGUÉM com A Igreja não é só dos Padres. É urgente que não seja. Este é o fermento que trago de Moçambique/Nampula e, enquanto gozo do fraterno acolhimento do Bispo Ildo, partilho com esta Igreja local.

UMA ENTREVISTA ADMIRÁVEL, PARA UM NOVO RUMO DA IGREJA (uma boa leitura para este fim de semana)

20 de Stemebro de 2013, SEXTA

Esta pequena mensagem, hoje, propõe a leitura da recente entrevista do SANTO PADRE sobre a nossa igreja. Respigada da revista CIVILTÀ CATOLLICA, espero que se deliciem com as suas maravilhosas palavras (e ideias) que podem ler aqui

A MEMÓRIA DE CESÁRIA

20 de Setembro de 2013, sexta: 11 h locais

Acabo de acompanhar o Bispo Ildo ao aeroporto pois, no domingo, deverá dar posse ao novo pároco da Boavista, ilha, como sabemos, em explosiva construção turística. Dizem que por lá andará um tal DL que deu cabo do BPN.

O aeroporto, desde sempre apelidado de S.Pedro (nome da zona e do povoado vizinho), tem agora, como “patrona” a rainha da mais caboverdeana música - a morna - Cesária Évora. Ali lhe foi implantada imponente estátua que  bem enquadrada na majestosa rusticidade da montanha que a todos, ali, nos envolve e interroga.
Tudo isto faz parte do encanto misterioso desta terra, destas ilhas e deste mar!

Logo, depois da celebração às 18:15 h, darei início, aqui em S.Vicente, ao trabalho cuidadoso e fecundo de formação pastoral: com quem aparecer, espero que apenas ½ dúzia de pessoas, iremos encetar a abordagem sobre como utilizar a Palavra de Deus escrita na Bíblia de forma muito proveitosa na transformação da própria vida e dod ambientes em que nos movemos.

PREPARANDO SALAMANSA E OUTROS PRAZERES TERRENOS

19 de Setembro de 2013, quinta


O Bispo Ildo deliciou-me com uma rápida fugida à conhecida Baía das Gatas, onde démos um saboroso mergulho, apesar de uma certa turvação das águas causada pelas chuvas diluvianas de há 8 dias. Pelo caminho fiquei a saber o caminho da comunidade de Salamansa onde deverei celebrara eucaristia no próximo domingo, pelas 8:00 h. De tarde foi o ofício normal de um padre destas paragens: 2 eucaristias, mesmo em dia de semana: uma na sede-paroquial da cidade outra na comunidade de Stº António, na Ribeira de Craquinha, bairro dos arredores da cidade.

CHEGADO AO MINDELO

18 de Setembro de 2013, quarta

Chegado ao Mindelo, sou, naturalmente, acolhido pelo bispo. Na sua conhecida simplicidade, não precisou dos apelos do Papa Francisco para saber estar no meio do seu rebanho, apreciar “o cheiro das suas ovelhas””, com elas tentar deslindar os caminhos pastorais relevantes para os tempos que vivemos e, neste arquipélago, ganham uma configuração tão peculiar. Numa coisa fará sorrir o Bispo de Roma, Francisco: tem mesmo de ser frequnte nos aeroportos já que a solicitude pastoral por um rebanho repartido por 5 ilhas lho impõe.


Pelas 18:15 h celebrei a minha 1ª eucaristia na Igreja de N.Srªda Luzsede-catedral da diocese, cujo pároco, P. Lino, de férias, substituirei, no que for possível, durante a minha permanência aqui. Logo de seguida, fui de visita à outra paróquia urbana, S. Vicente, criada, há cerca de 7 anos, com a vinda do então, P. Ildo, que, embora agora bispo diocesano, se vê constrangido a assegurar o cuidado de uma ou outra paróquia sempre que lho impõe exiguidade de padres diocesanos (5 ao todo, de momento, num total de 26 presbíteros no conjunto das 5 ilhas que integram a diocese). Como “pároco” presidia uma reunião de catequistas (estavam cerca de 30 das 12 comunidades existentes na paróquia). No bom estilo das comunidades cristãs do princípio, dar-me-ia a palavra para me apresentar, o que me deu o ensejo de intervir no contexto da temática ali tratada: a corresponsabilidade pastoral de todos os batizados e, com maior razão, a do/as catequistas, quais cooperadores de 1ª linha dos pastores (bispo e padres) no anúncio da novidade de Jesus Cristo para nós, para o mundo.

Tive, mais uma vez, oportunidade de enfatizar, quão determinantes tinham sido, para mim, os/as batizados/as, homens e mulheres, na concretização da minha maneira de ser Padre, em cada contexto e em cada situação, em Moçambique ou em Portugal, com nomes de Nampula (como Afonso M’Putha, Alexandre Rancho, Inácio Araújo, Maria Helena e outros que constam no livro UMA IGREJA DE TODOS E DE ALGUÉM) ou da Bobadela (como os mais jovens como o Bruno, a Marina, as Cláudias, as Isabeis, ou mais velhos como a Idília, a Leopoldina, o José Ribeiro, o Pinto, e outros/as que tornariam esta lista interminável ).Penso que é uma partilha útil para esta Igreja do Mindelo, com Igrejas cheias de gente de todas as idades.

MEMÓRIAS DA "PEDRA DE LUME"

18 de Setembro de 2013, quarta

Passo a passo, vou reexperienciando o misterioso encanto de uma terra que começou a ter gente em tempo conhecido. De ilhas deserta – já desertificadas, não sei! – começaram a abrigar e a guardar gentes de outras paragens várias, de Portugal e mais Europa, à África, em geral, especialmente das colónias africanas portuguesas, e, pelas vicissitudes do Império, também da longínqua Goa/Índia.




Cada canto tem o seu encanto. Ontem, antes de rumar para S.Vicente, fui brindado com uma visita aos encantos da Pedra de Lume, onde está patente a história do negócio do sal. Nas fotos: 1- a encantadora bacia das salinas (numa antiga cratera de vulcão, abaixo do nível do mar, que deixou os filões naturais de comunicação para a água); 2- restos do que foi o teleférico que, em tempos idos, carreava o sal para os barcos que o levariam aos 4 cantos do mundo.

SANTO ANTÓNIO DOS ESPARGOS E CONVERSA SOBRE O MEU LIVRO


17 de Setembro de 2013, terça

O dia a seguir à festa da Senhora das Dores – com a procissão de mar – foi de familiarização com a terra e as gentes. Desde logo, acompnhando o Bispo Ildo ao aeroporto no seu regresso a Mindelo onde já era esperado… É difícil ser pastor numa diocese de total descontinuidade territorial em termos de comunicações por terra…
Terminei o dia com a celebração da Eucaristia na agora “Quase-Paróquia” de Santo António de Espargos, à qual se seguiria a primeira sessão de formação de “Leigos/Leigas” empenhado/as na vida das comunidades.
O fito é enfatizar a importância do compromisso pastoral de cada batizado/a enraízado no Batismo. Fizemos uma sessão de cerca de 2 h tendo como referência o livro UMA IGREJA DE TODOS E DE ALGUÉM já em 2ª edição. Foi de salutar importância o vídeo preparado para o lançamento da 1ª edição pelo Luís Silveira Rodrigues, bem como a intervenção do Isaías que, mais uma vez, permanece como testemunho vivo, original e desafiante, tanto para jovens como menos jovens. Um empenho na missão de 17 anos é coisa que interpela.Desta maneira, a original experiência da Igreja de Nampula/Moçambique, no período do fim do colonialismo até aos anos 90 posteriores ao Acordo Geral de Paz, se vai fazendo actos de apóstolos partilhados no espaço mais alargado.

Daqui a momentos sigo para o Mindelo. Ficou combinado que, no regresso a Lisboa, voltarei a estacionar aqui por 24 h o que nos dará a oportunidade de continuar a partilha da minha experiência pastoral em 45 anos de terras moçambicanas. Iremos incidir sobre a partilha da Palavra de Deus escrita (Bíblia) como fonte e dinamismo de renovação e santificação da vida (uma sessão); e sobre o papel dos Cristãos e das Igrejas na renovação do Mundo alimentados pela mesma Palavra (outra sessão, imediatamente antes de rumar para Lisboa na noite do dia 3 de Outubro).

UMA PROCISSÃO NA SERENIDADE DO MAR

16 de Setembro de 2013, segunda

Fui apanhado de surpresa pois saí de casa pensando que ia para uma missa “normal”, durante a qual o novo e jovem padre, recém-ordenado, iria tomar posse como novo pároco. Não levei comogo as máquinas fotográficas.

Mas não faltaram fotógrafos: dos caboverdeanos – integrados nas celebrações e na procissão -  aos estrangeiros turistas que, quais mirones respeitosos, pululavam já por todas as artérias.
E a Senhora das Dores lá foi avançando, cada vez mais perto da ponte-cais. Após um breve rito introdutório presidido pelo Bispo Ildo (natural deste terra do SAL), começa o embarque: o da Senhora das Dores, num tamará habilmente comandado pelo seu dono/piloto capitão – sr Luís – aos botes e barcaças dos pescadores que, uma vez bem ocupados, se “fizeram ao largo” com um ininterrupto canto a partir do barco principal onde iamos os padres, o diácono João Andrade (que se via ser o motor desta explêndida liturgia da rua e mar) e o Bispo diocesano.
Nunca tinha experimentado tamanha naturalidade entre os banhistas, uns e umas mais vestidos ou menos, de todas as raças e cores.
Quando, navegávamos por mais largo, ao ritmo do canto e do terço, o mesmo acontecera  com aqueles/as que na ponte tiveram de ficar por falta de lugar nos barcos e botes!
Durante quase 2 horas, deliciei-me com a beleza dos barcos de velas desfraldadas e engalanadas, com a explêndida lonjura da água de um verde transparente e límpido onde se espelhava o monte leão (colina quase solitária que se eleva na extensa planura da ilha.
Nota de salientar: o motor do barco principal teimava em não arrancar depois de sucessivas tentativas. Eis que o piloto tira a camisa, mergulha em direção às élices, e, momentos depois, sobe para bordo trazendo consigo as cordas onde encalhara. Briosamente, dá arranque ao motor e ei-lo, todo encharcado, envergando, de novo, a camisa e o boné alvos de neve, conduzindo garbosamente a comitiva marial que, qual Senhora da Boa Viagem em Peniche ou Nossa Senhora da Agonia em Praia de Âncora, num mar tão sereno como o Índico frente à Ilha de Moçambique, cantava e rezava pela Paz nesta terra de serenidade e, com o Papa Francisco, pela Síria e todo o mundo.

DE VOLTA A CABO VERDE

15 de Setembro de 2013, domingo

Acabo de chegar a Cabo Verde. É a minha 3ª visita a esta terra que tanto mexe comigo. A austeridade, a dureza da sua paisagem é uma pergunta permanente: como surge e vive aqui um povo de homensmulheres? Que quer dizer caboverdeanidade? 

Aproveitando a amizade do Bispo Ildo Fortes, do Mindelo, artista consumado no canto mais típico destas ilhas – a morna – venho, mais uma vez, como peregrino. Como há 45 anos chegando a
Moçambique como jovem missionário, também agora me move o ímpeto de querer partilhar e confrontar o meu sentir cristão – e agora, padre – com a Igreja que há 500 anos vem nascendo nestas paragens.

Mesmo sem o ter programado expressamente, tive logo a sorte de vir iniciar a minha estadia de 20 dias, pela Ilha do Sal onde o bispo veio dar posse ao jovem e novo pároco, P.Adriano Batista, no contexto da popular Festa de Nossa Senhora das Dores, padroeira da paróquia local, em que o mais espetacular foi a Procissão pelo Mar.