FALECEU D.ANTÓNIO MARCELINO

9 de Outubro de 2013, Quarta 
PÁSCOAS

Do servo do Reino de Deus Bispo António Marcelino – Diocese de Aveiro - Portugal e da serva Maria Helena Sabonete – Paróquia de S.João Baptista do Marrere – Diocese de Nampula/Moçambique


Somos multidão aqueles que fomos bafejados pela graça de Deus na longa vida pastoral do Bispo António Marcelino (em “Pedaços de vida que geram vida” deixou testemunho de quanto lhe custava “engolir” o título nobiliárquico de Dom).
Partiu quando ainda muito eu precisava dele. Perdi um amigo e um confidente da minha vida de homem e de padre na peregrinação deste mundo. Imagino-o em alegre convívio com o Luis Manuel Osório, também meu companheiro de aventura africana (1968-1970) que há anos (2006) para lá nos precedeu.
O então Padre Marcelino deu-nos a primeira palavra de certeza e alento de que a intuição de partirmos para África era de levar por diante. Estávamos no 2º ano do curso de Teologia no Seminário dos Olivais (Lisboa). Ele veio de Portalegre pregar-nos o retiro de Advento em Dez 1967. E a semente deu frutos.
Sempre cúmplice e confidente, instigador nato de criatividade e desinstalação, acompanhou-me em todas as alegrias e esperanças, vicissitudes e (algumas) tristezas do meu percurso de padre. Até agora.
Por isso se dispôs a prefaciar as minhas duas publicações que têm a ver com o mais
importante da minha vida: 


UMA IGREJA DE TODOS E DE ALGUÉM (Março de 2012)

PENITÊNCIA E CONFISSÃO DOS PECADOS – Porque sim? 
(Setembro de 2013)

Já não tive tempo de lhe mostrar a edição deste último, saído apenas há dias.



Na apresentação do meu livro em Março de 2012
Na dor de me ver apartado de mais um amigo e companheiro de caminhada, celebro asua Páscoa convosco num sentido canto de louvor a Deus-Pai de Bondade que neste seu servo tanta misericórdia entre nós espalhou.







Serva Maria Helena Sabonete – Paróquia de S.João Baptista do Marrere – Diocese de Nampula/Moçambique


No mesmo dia, notícia semelhante me chega de Nampula: a mamã Maria Helena, a mulher discípula que tanto me ensinou nas lides de pastor em Nampula, também se pascoalizou anteontem, dia 8 de Outubro.










Sinto-me feliz por ter registado o valor desta mulher-discípula no livro uma Igreja de Todos e de Alguém (p.221). Na imagem acima preside, por volta de 1992, a uma celebração, na Comunidade da sede da Paróquia de S. João Batista do Marrere (Nampula-Moçambique) da qual era a “anciã”.
Podemos com toda a propriedade dizer que foi uma verdadeira mulher pastora.

ILHA DO SAL - A MOMENTOS DUMA NOVA PARTIDA, JÁ NASCEM AS VELHAS SAUDADES...

3 de Outubro DE 2013, Quinta 

Na noite de hoje embarcarei de regresso a Lisboa, depois de uma entrosada estadia em Cabo Verde, proporcionada pelo trabalho de formação dos cristãos nas paróquias de N.Srªda Luz e S.Vicente (Ilha de S.Vicente), de N.Srª do Livramento (Santo Antão) e N. Srª das Dores (Sal). 

A sessão de ontem à noite, aqui nos Espargos (Sal) dediquei-a a passar a técnica, simultaneamente e xperimentada, da Partilha da Palavra de Deus pelo método das 7 etapas. É algo de parecido com a conhecida Lectio Divina, de forma que os textos bíblicos sejam realmente saboreados e nos levem à conversão de atitudes e aos compromissos que uma fé esclarecida e empnehada implica.


Terminarei, daqui a 2 horas, com chave de ouro: uma Celebração Penitencial incluindo a Confissão dos Pecados em comunidade orante e celebrativa que já deixou as pessoas, em S.Vicente, muito surpreendidas e bem dispostas. Não suspeitavam que tal coisa fosse possível. 

Afinal, a Confissão, coisa tão desacreditada um pouco por toda a Europa, pode ser fonte de alegria e energia espiritual na vida. Sigo um rito e uma pedagogia que me foram surgindo na longa experiência das comunidades de Nampula, e que procura aliar, com muita seriedade e rigor, pela participação activa de todos os circunstantes, a escuta da Palavra e o rito litúrgico tradicional, enriquecido com facetas de inculturação segundo o contexto. 

 É a Palavra escutada e partilhada pela comunidade celebrante,que vai iluminando as nossas vidas, tanto individuais/pessoais como colectivas. A consequente Confissão dos Pecados surge como fruto muito espontâneo dessa partilha e das denúncias que tal Palavra nos sugira de modo mais ou menos explícito. Por isso, também o canto de invocação da Misericórdia de Deus aparece como natural expressão da comunidade e das pessoas penitentes e reconciliadas. 

Em anexo, deixo também um quase roteiro do que foi o trabalho de reflexão durante estes dias, da minha estadia aqui em Cabo Verde (Diocese do Mindelo) – 15 Setembro-3 de Outbro 2013) – tendo passado pelas Paróquias de N.Srªda Luz e S.Vicente (Ilha de S.Vicente), N.Srª do Rosário (Ilha de StºAntão) e de N.Srª das Dores (Sal): 

1. A Igreja de Jesus é de todos os batizados
2. Igreja comprometida na transformação do mundo ao serviço da Paz e da Justiça.

EM JEITO DE DESPEDIDA

1 Outubro de 2013, terça

Em Santo Antão, a ilha mais verde do Barlavento, o verde, embora mais consistente que em S.Vicente e Sal, é, mesmo assim, tímido, fazendo-me sentir saudades do luxuriante verde de Nampula, em tempo de chuvas, ou dos Montes do Guruè, durante todo o ano. Aqui é um verde que, a custo,  brota dos montes acastanhados.


No entanto, embora breve, foi rica a minha estadia:

1º Um acolhimento cordial por 3 jovens servidores da Igreja local que me recordaram a minha passagem por aqui, na altura também de apenas 24 h, em Abril de 2011, sendo, então, pároco O P.José Mario.

 
Padre Adriano Cabralm
actual Pároco de Ribeira Grande e
 Ponta do Sol
Na partilha da mesa e da conversa confirmei a sadia disponibilidade para servirem criativamente a sua Igreja diocesana. Fiquei particularmente sensibilizado pela sua atitude e análise críticas que revelam em relação a muito conservadorismo clerical ressurgente na Igreja católica, com o qual o próprio Papa Francisco, como o temos sobejamente sentido nos media, tem de se confrontar. E a esse conservadorismo emergente e ressurgente não escapam alguns sectores de Portugal e de Lisboa, em concreto, a ponto de já se dizer por aí se o novo patriarca, Manuel Clemente, será capaz de fazer, na sua cúria, o que o Papa Francisco vai já fAzendo no Vaticano!


2º Uma rápida visita à cidade de Ponta do Sol com edifícos de uma traça encantadora onde o ex-libris é, sem dúvida, o edifício da Câmara Municipal, em cuja praça sobressai, também, a igreja, para cuja requalificação o P.Adriano procura soluções e recursos financeiros.



De passagem pelo porto, uma partida de cartas /bisca ou sueca, como lhe quiserem chamar), partilhando a natural, espontânea e sadia convivência desta gente do mar.

Um senão: na cidade não faltam o que, a meu ver, são mamarrachos de linhas arquitectónicas e de cores completamente desajustadas. A Câmara devia velar mais por isto articulando melhor os seus técnicos com a todo-poderosa empresa SPENCER, que, pela sua acção, revela pouca alguma insensibilidade cultural pela beleza antiga e envolvente.

3º Uma presença de serviço religioso na magnífica igreja paroquial, sob o orago de N.SrªdoRosário para onde o P.Adriano me marcara missa para as 18:00 h antecedida de confissões. Foi ocasião de ter a experiência viva das marcas muito tradicionalistas da igreja popular de Cabo Verde. Por um lado, aceder á confissão dos pecados como necessidade de rotina. E isso, tanto em gente nova como idosa.

Mas, por outro, muitas das pessoas confessadas ao longo de 1 hora não ficariam para a celebração da eucaristia onde, por sinal, celebrámos a memória de S.Jerónimo, esse gigante da introdução da Bíblia na vida da Igreja no seu tempo (sec IV – ver aqui .

Apesar do seu insistente aviso na véspera, dia de Festa de S.Miguel Arcanjo, pouca gente respondeu ao convite do P. Adriano para comparecer no encontro onde eu partilharia o livro Uma Igreja de Todos e de Alguém. Contra-partida positiva: foram apenas meia dúzia de pessoas, incluindo os padres e o seminarista Bernardino que manifestaram bem quanto a tradição viva da nossa Igreja em Moçambique/Nampula tem de potencialidades a partilhar com esta Igreja local ainda muito necessitada de se converter a um rosto mais conciliar, menos de super-mercado espiritual de confissões individuais e mais ao espírito comunitário de gente corresponsável. Ficou o desafio a que os jovens padres desta diocese vão partilhar a nossa experiência de Moçambique… Todos poderemos ganhar por razões variadas.