UMA PROCISSÃO NA SERENIDADE DO MAR

16 de Setembro de 2013, segunda

Fui apanhado de surpresa pois saí de casa pensando que ia para uma missa “normal”, durante a qual o novo e jovem padre, recém-ordenado, iria tomar posse como novo pároco. Não levei comogo as máquinas fotográficas.

Mas não faltaram fotógrafos: dos caboverdeanos – integrados nas celebrações e na procissão -  aos estrangeiros turistas que, quais mirones respeitosos, pululavam já por todas as artérias.
E a Senhora das Dores lá foi avançando, cada vez mais perto da ponte-cais. Após um breve rito introdutório presidido pelo Bispo Ildo (natural deste terra do SAL), começa o embarque: o da Senhora das Dores, num tamará habilmente comandado pelo seu dono/piloto capitão – sr Luís – aos botes e barcaças dos pescadores que, uma vez bem ocupados, se “fizeram ao largo” com um ininterrupto canto a partir do barco principal onde iamos os padres, o diácono João Andrade (que se via ser o motor desta explêndida liturgia da rua e mar) e o Bispo diocesano.
Nunca tinha experimentado tamanha naturalidade entre os banhistas, uns e umas mais vestidos ou menos, de todas as raças e cores.
Quando, navegávamos por mais largo, ao ritmo do canto e do terço, o mesmo acontecera  com aqueles/as que na ponte tiveram de ficar por falta de lugar nos barcos e botes!
Durante quase 2 horas, deliciei-me com a beleza dos barcos de velas desfraldadas e engalanadas, com a explêndida lonjura da água de um verde transparente e límpido onde se espelhava o monte leão (colina quase solitária que se eleva na extensa planura da ilha.
Nota de salientar: o motor do barco principal teimava em não arrancar depois de sucessivas tentativas. Eis que o piloto tira a camisa, mergulha em direção às élices, e, momentos depois, sobe para bordo trazendo consigo as cordas onde encalhara. Briosamente, dá arranque ao motor e ei-lo, todo encharcado, envergando, de novo, a camisa e o boné alvos de neve, conduzindo garbosamente a comitiva marial que, qual Senhora da Boa Viagem em Peniche ou Nossa Senhora da Agonia em Praia de Âncora, num mar tão sereno como o Índico frente à Ilha de Moçambique, cantava e rezava pela Paz nesta terra de serenidade e, com o Papa Francisco, pela Síria e todo o mundo.