Merecer a Paz!
Embrulhados na guerra, ansiamos pela Paz!
Quando, há meses, o Governo, finalmente, anunciou a
aceitação dos mediadores nacionais e internacionais para o diálogo, mais uma
vez inconclusivo, na Comissão Mista, com os representantes da Renamo, embora já
céptico (por razões mais que evidentes para qualquer acompanhante do processo
político moçambicano dos últimos 5 anos), mantinha uma pontinha de esperança e
dizia com os meus botões ”talvez desta seja mesmo!”.
E tentava convencer-me ruminando razões:
1ª Vamos ter a presença de, pelo menos, 4 qualificados
católicos. A União Europeia surpreendeu-nos, optando por enviar 2 católicos da
Comunidade de Santo Egídio: Mário Rafaelli, já experimentado nestas lides e
nestes espaços, porque integrante das conversações que, em 1992, conduziram ao
Acordo Geral de Paz; e o Padre Ângelo Romano.
A Santa Sé, por sua vez, indicou o Núncio Apostólico no
Maputo, Edgar Peña Parra, e o Bispo João Carlos, Secretário da Conferência
Episcopal de Moçambique (CEM).
Gente de elevado peso
simbólico!
2ª Como católicos se assumem os dois chefes das partes em
conflito militar: o Presidente da República, Filipe Nhussi e Afonso Dlhakhama,
líder da Renamo.
Eram razões bastantes para termos dado, ao menos, o
benefício da esperança!
Mas eis que, sem surpresas, mais uma manobra negativa surge
da parte do governo: não precisamos de mediadores! Parece-me que voltamos –
quase – à estaca zero.
Mais, este retrocesso, continua a ser, para mim, um profundo
desafio à esperança! Conhecendo, como conheço, tantas pessoas de coração nobre
no Partido Frelimo, fico na expectativa de que estas consigam tomar conta do
processo político e marginalizar os duros e empedernidos que teimam em querer impor
a via militarista angolanizante a este País.
Mantenho-me vigilante na esperança de que a celebração do
Natal, na casa do Presidente da República, tenha mais densidade cristã do que
politizante. Que ele possa dar mais acolhimento às genuínas mensagens de Paz e
recuse, de uma vez por todas, os conselheiros belicistas dos generais – todos
falam deles - que impõem a dor e o sofrimento a Moçambique!
Mantenho-me vigilante na esperança da Paz, apelando a todos
os pastores cristãos – e o mesmo apelo endereço aos notáveis muçulmanos – que
se assumam como coerentes defensores e conquistadores da Paz.
Apelo, particularmente, aos Bispos da minha Igreja Católica,
que assumam, por inteiro, e mesmo com risco de vida, as suas responsabilidades:
ponham na rua os seus milhares e milhares de fiéis em procissões de Paz!
Assumam a herança de Vieira Pinto e de Jaime Gonçalves com coragem e
determinação. Os homens e as mulheres de Paz, incluindo os dirigentes e
militantes da Frelimo, os genuinamente amantes da Paz, precisam deste testemunho
de coragem e fidelidade! Contra o medo que paralisa. Com o Profeta Isaías dizei
aos corações atribulados: “não temais! Eis o vosso Deus que vem”. Gritemos, em
uníssono, no dia de Natal ou no dia mundial da Paz: “Eis o nosso Deus de Paz!
Exigimos a Sua Paz!”.
Se não temos a Paz, é porque ainda a não merecemos! Ainda
não fomos até ao limite das nossas forças na construção e no testemunho da Paz.
É a Hora da Cruz, fonte de Vida e de Paz!