Todos sabemos que a média de morte em acidentes de viação, em
Moçambique, anda na casa das 30 pessoas por semana. Sensivelmente, o nº de
pessoas mortas no inesquecível acidente das LAM no voo para Luanda.
A NAGI e similares são apenas algumas das culpadas por tão
dramática situação nacional. Ainda não encontrei pessoa que não vá para uma viagem com
essa gente, sem medo. Mas como quase têm o monopólio, dizem as pessoas resignadas: que fazer?
No passado dia 6 deste Janeiro deste Ano Novo 2016, teve
mais um aparatoso acidente a uns Kms a norte do Alto Molócue a caminho de
Nampula.
Passageiras eram todas as Irmãs do Amor de Deus, minhas
vizinhas na Missão do Marrere /Nampula. Quando nos encontrámos depois de umas
semanas de separação cada um/a pelas suas andanças de Natal e Ano Novo,
exprimiam-se profundamente emocionadas e quase admiradas por ainda estarem
vivas. Acabavam, naquele dia de Reis, de escapar, miraculosamente da morte.
A sua versão:
Acabando de sair do Alto Molocué, são surpreendidas por
volta-atrás, alegadamente porque o condutor ali se esquecera do seu telemóvel.
Na mira de recuperar o tempo perdido, de novo na rota do
destino, o acelerador vai a fundo, como é costume deles e, de repente, rebenta um
pneu! Foi o pânico geral, mas o condutor, depois de derrubar uma palhota ou
outra, suficientemente frágeis para nos provocar um embate fatal, conseguiu
passar por entre árvores (mangueiras?) até, subitamente, afocinhar quando as
pessoas já se viam mergulhadas no rio! Era o milagre!
A minha experiência:
Há cerca de um mês eu regressava de Pemba. Entre Namapa e
Nacaroa, circulando eu a 100-120 Kms/h sinto-me, subitamente, a ser
ultrapassado… Era um autocarro da NAGI. Surpreendido, instintivamente, acelerei
para ver se conseguia apanhá-lo e, eventualmente, ultrapassá-lo. Quando atingi
os 140 Kms/h, desisti. Ultrapassá-lo-ia quando ele estava parado no cruzamento
da Nacaroa.
Uns Kms à frente, a polícia mandar-me-ia parar. Como é meu
costume, entro a brincar com o polícia: “então que se passa? Agora que já venho
de tão longe é que aparece um polícia a mandar-me parar”. O polícia cortês,
delicado, riposta: “Só para recomendar cuidado, que esta estrada tem perigos;
muita velocidade é perigoso… etc” ao que eu ripostei: Não é a mim que deve dar
esses conselhos mas àqueles assassinos da NAGI que vêm aí atrás…”Palavras não
eram ditas e irrompe outro polícia : “Isso, isso, lá vêm eles, os assassinos”.
Eu parti e pelo menos aquele NAGI não me ultrapassou até ao Namialo. Será que
os polícias retiveram aquele autocarro como há dias fizeram a outro que de
Nampula se dirtigia ao Chimoio e saiu da cidade com 2 horas de atraso por ter
sido retido pela polícia creio que na zona da Faina?
As nossas perguntas:
- Se esta empresa é conhecida pelos criminosos acidentes que
já provocaram dezenas de mortos, como pode continuar a operar num país que se
queira de direito e respeito pelos cidadãos (os mais pobres, claro, que são os
seus clientes sem carro próprio)?
- Diz a vox populi que outras empresas, com outros nomes
(Tangalane, Maning Nice, etc) são todas do mesmo dono e só servem para, como
aconteceu no ano passado (ou há 2 anos já não me lembro) quando tiverem
penalizações numa, as outras ocuparem o serviço e, assim, os donos ficam sempre
a ganhar, mesmo que o povo continue a morrer. Será verdade?
- Se está provado que o excesso de velocidade é a causa
evidente de tão mau e desrespeitoso desempenho, por que espera o governo para
intervir em força? Por exemplo, introduzindo um mecanismo de controle de
velocidades. Afinal, tais autocarros circulam em rotas bem conhecidas. Porque
não se obrigam esses carros e condutores a registarem, junto das polícias de
trânsito, os tempos de marcha? Não seria uma pequena ajuda de repressão?
- Depois, diz ainda a vox populi, que os condutores nem são
moçambicanos. Será verdade? E também diz o povo que alguns fumam antes para
poderem ter tais comportamentos homicidas. Será verdade?
- E finalmente: a quem se deve acusar por esta persistência
de altas e assassinas velocidades: os condutores ou os patrões que lhes impõem
horários apertados e impossíveis de cumprir em velocidades normais que imagino
eu, nunca poderiam ser, para este caso de serviço público e tendo em conta a
qualidade das nossas estradas, para lá dos 100 Kms/h?
- E, finalissimamente, pergunto: quem são os donos destas empresas
assassinas? Será verdade que são pessoas da alta governança ou seus amigos como
também aponta a vox populi? Não seria socialmente interessante revelar ao mundo
as caras dos donos desta homicida empresa?
Haja transparência e respeito!
Até quando viajar com medo nas estradas deste dito “Belo
Moçambique”?