NAGI - Quem lhe põe travão?

11 de Janeiro de 2016


Todos sabemos que a média de morte em acidentes de viação, em Moçambique, anda na casa das 30 pessoas por semana. Sensivelmente, o nº de pessoas mortas no inesquecível acidente das LAM no voo para Luanda.

A NAGI e similares são apenas algumas das culpadas por tão dramática situação nacional. Ainda não encontrei pessoa que não vá para uma viagem com essa gente, sem medo. Mas como quase têm o monopólio, dizem as pessoas resignadas: que fazer?

No passado dia 6 deste Janeiro deste Ano Novo 2016, teve mais um aparatoso acidente a uns Kms a norte do Alto Molócue a caminho de Nampula.

Passageiras eram todas as Irmãs do Amor de Deus, minhas vizinhas na Missão do Marrere /Nampula. Quando nos encontrámos depois de umas semanas de separação cada um/a pelas suas andanças de Natal e Ano Novo, exprimiam-se profundamente emocionadas e quase admiradas por ainda estarem vivas. Acabavam, naquele dia de Reis, de escapar, miraculosamente da morte.

A sua versão:

Acabando de sair do Alto Molocué, são surpreendidas por volta-atrás, alegadamente porque o condutor ali se esquecera do seu telemóvel.
Na mira de recuperar o tempo perdido, de novo na rota do destino, o acelerador vai a fundo, como é costume deles e, de repente, rebenta um pneu! Foi o pânico geral, mas o condutor, depois de derrubar uma palhota ou outra, suficientemente frágeis para nos provocar um embate fatal, conseguiu passar por entre árvores (mangueiras?) até, subitamente, afocinhar quando as pessoas já se viam mergulhadas no rio! Era o milagre!

A minha experiência:

Há cerca de um mês eu regressava de Pemba. Entre Namapa e Nacaroa, circulando eu a 100-120 Kms/h sinto-me, subitamente, a ser ultrapassado… Era um autocarro da NAGI. Surpreendido, instintivamente, acelerei para ver se conseguia apanhá-lo e, eventualmente, ultrapassá-lo. Quando atingi os 140 Kms/h, desisti. Ultrapassá-lo-ia quando ele estava parado no cruzamento da Nacaroa.
Uns Kms à frente, a polícia mandar-me-ia parar. Como é meu costume, entro a brincar com o polícia: “então que se passa? Agora que já venho de tão longe é que aparece um polícia a mandar-me parar”. O polícia cortês, delicado, riposta: “Só para recomendar cuidado, que esta estrada tem perigos; muita velocidade é perigoso… etc” ao que eu ripostei: Não é a mim que deve dar esses conselhos mas àqueles assassinos da NAGI que vêm aí atrás…”Palavras não eram ditas e irrompe outro polícia : “Isso, isso, lá vêm eles, os assassinos”. Eu parti e pelo menos aquele NAGI não me ultrapassou até ao Namialo. Será que os polícias retiveram aquele autocarro como há dias fizeram a outro que de Nampula se dirtigia ao Chimoio e saiu da cidade com 2 horas de atraso por ter sido retido pela polícia creio que na zona da Faina?

As nossas perguntas:

- Se esta empresa é conhecida pelos criminosos acidentes que já provocaram dezenas de mortos, como pode continuar a operar num país que se queira de direito e respeito pelos cidadãos (os mais pobres, claro, que são os seus clientes sem carro próprio)?
- Diz a vox populi que outras empresas, com outros nomes (Tangalane, Maning Nice, etc) são todas do mesmo dono e só servem para, como aconteceu no ano passado (ou há 2 anos já não me lembro) quando tiverem penalizações numa, as outras ocuparem o serviço e, assim, os donos ficam sempre a ganhar, mesmo que o povo continue a morrer. Será verdade?
- Se está provado que o excesso de velocidade é a causa evidente de tão mau e desrespeitoso desempenho, por que espera o governo para intervir em força? Por exemplo, introduzindo um mecanismo de controle de velocidades. Afinal, tais autocarros circulam em rotas bem conhecidas. Porque não se obrigam esses carros e condutores a registarem, junto das polícias de trânsito, os tempos de marcha? Não seria uma pequena ajuda de repressão?
- Depois, diz ainda a vox populi, que os condutores nem são moçambicanos. Será verdade? E também diz o povo que alguns fumam antes para poderem ter tais comportamentos homicidas. Será verdade?
- E finalmente: a quem se deve acusar por esta persistência de altas e assassinas velocidades: os condutores ou os patrões que lhes impõem horários apertados e impossíveis de cumprir em velocidades normais que imagino eu, nunca poderiam ser, para este caso de serviço público e tendo em conta a qualidade das nossas estradas, para lá dos 100 Kms/h?
- E, finalissimamente, pergunto: quem são os donos destas empresas assassinas? Será verdade que são pessoas da alta governança ou seus amigos como também aponta a vox populi? Não seria socialmente interessante revelar ao mundo as caras dos donos desta homicida empresa?
Haja transparência e respeito!
Até quando viajar com medo nas estradas deste dito “Belo Moçambique”?