Maria Clara Marques - Missionária dedicada



23 de Setembro

Conheci esta mulher como dinâmica missionária em Nampula logo que cheguei a Nampula em 1968. Estava ainda na Escola de Formação de Professoras de S.Pedro (edifício onde hoje funciona a Universidade Pedagógica-Delegação de Nampula), no Baeirro de Napipine.

Em 1972 já a encontrarei na Namaíta, em comunidade com a Irmã Sacré Coeur (como ela, na altura, das Irmãs da Apresentação de Maria) e a enérgica Irmã Maria Rita Valente Perfeito. As três inventaram uma forma original de "Serviço Fraterno aos Leprosos" com resultados encantadores.

Mais tarde, já no tempo de País independente, será apóstola criativa na Missão de Santa Rita do Caramaja, dando apoio aos animadores emergentes nas respectivas comunidades, como, por exemplo, o que foi o primeiro Animador/Pároco, João Salvino. Acompanhava, pastoralmente, o saudoso Padre Agostinho de Sousa, na altura também Vigário Geral da Diocese.

Terminaria o seu serviço missionário em Nampula como professora de francês no Seminário Mater Apostolorum e auxiliar da administração.

Em Portugal tem vivido numa humildade edificante, deitando mão, enquanto a saúde lho permitiu, a todos os trabalhos que lhe foram permitindo sobreviver.

Eu, e as minhas amigas, Maria Adelaide, Maria Luiza Ferreira e a Ana Maria Brandão (como ela também missionárias nas horas longínquas da independência ,temos sido enriquecidos pelo testemunho desta velha senhora que vimos acompanhando quanto possível.

Mau grado os limites de saúde, continua a evidenciar uma energia espiritual edificante que lhe tem permitido captar também a atenção e a simpatia de vizinhos e vizinhas, médicas e funcionárias da segurança social. Prova-o o "senhor andarilho" que simpaticamente lhe foi providenciado para que, com maior segurança e autonomia, possa, ela própria, deslocar-se até aos supermercados fazer as suas compras. Nada detém esta mulher forte!

Desafios à Igreja Católica de Cabo Verde, hoje

2 de Setembro de 2014

Na Cidade Velha
Na minha recente estadia de um mês em Cabo Verde, um padre e um seminarista perguntavam-me, em momentos diferentes,
o que achava da Igreja católica do seu país. Com alguma prontidão, disse que me parecia ainda excessivamente clericodependente. Parece que, se não há padre, tudo pára. Ainda não me apercebi que houvesse leigos que evidenciassem uma postura de pertença e partilha de responsabilidades, tanto nas tarefas de índole mais pastoral como nas administrativas. Há ainda muito caminho a percorrer.

Sou testemunha dos esforços que o Bispo Arlindo Furtado (Diocese de Santiago/Praia) e do Bispo Ildo Fortes (Diocese do Mindelo), desenvolvem no sentido de incutirem às suas Igrejas locais um rosto mais de acordo com o modelo da Lumen Gentium do Concílio Vaticano II: uma Igreja de índole mais comunional, de maior corresponsabilidade de todos os batizados, enfim, mais participativa. As minhas duas visitas, a de setembro de 2013 e a deste mês de agosto, enquadram-se neste esforço (como se pode constatar nos relatos que deixei, já no ano passado, neste blog).


Festa de Stº Agostinho / Tenda - Tarrafal - Santiago
Por razões que ainda não me atrevo a referir aqui (precisarei de mais tempo de estudo do fenómeno e da história), é evidente que o povo católico funciona, ainda, muito umbilicalmente dependente do clero. 

  

Procissão na Festa de Stº Agostinho
É uma pesada herança do catolicismo português que os padres (e o seu estilo europeu) ainda não conseguiram metamorfosear. São marcas de uma religiosidade tradicional que também pesa muito em Portugal. Em Cabo Verde, permanece uma Igreja de devoções a Nossa Senhora e a muitos santos e santas de evidentes marcas portuguesas.
 (Veja a continuação desta reflexão na página anexa com o mesmo título)

Da Boavista a Santiago

 23 de Agosto


Na Ilha da Boavista creio ter deixado uma pequena semente de alerta para a necessiade de renovar o coração (com a leitura orante da Bíblia) e a visão de Igreja.
Metáfora da Igreja-carroça e da Igreja-pirâmide



Meia dúzia de pessoas, quase todas jovens e muito interessadas, exprimiram-se com muita clareza diante dos cartazes que utilizo desde há 20 anos, sempre que pretendo ajudar as pessoas a perceberem o que é a Igreja "velha" e qual é a Igreja "Nova" que o Concílio nos revelou. 





Na Igreja-corpo de Cristo todos têm uma tarefa a cumprir

A Cesaltina, diante destas metáforas diria, com muita espontaneidade: esta é a nossa Igreja que eu não quero.


Aqui a vemos, entusiasmada na descofificação da metáfora do Corpo segundo as cartas paulinas




Na Praia, onde, no dia 16, de passagem para a Boavista, tivera um encontro com o respectivo Bispo Arlindo que me predispôs para o tipo de assembleia que iria encontrar, tivemos 5 tardes pos-laborais com uma assembleia de 40 a 80 pessoas, num amplo salão do Centro Paroquial de Nossa Senhora da Graça. 

Eram, quase todas, pessoas dos órgãos da Pastoral diocesana. "É gente já trabalhada, que já fez alguma caminhada" dissera-me o Bispo. Assim o constatei. Percebia-se, na expressão de muitas delas, que era já clara a consciência da dignidade e da responsabilidade batismal, tanto ad intra ecclesia, como ad extra.


 Exprimiram o seu apreço pela pedagogia activa que pusemos em prática utilizando também a técnica da descodificação dos cartazes  que ajudou a racionalizar as visões de Igreja, por vezes em luta no espírito de cada e que nos inspiram nas práticas quotidinas.



  Sobretudo, comoveram-me, no fim da sessão em que os iniciei na Leitura Orante da Bíblia, em grupo, pelo Método das 7 etapas, com a sua explosão de apaluso.

Realmente, tem sido a faceta mais gratifcante da minha vida: ajudar as pessoas a fazerem a experiência de quanto a leitura da vida se pode tornar real fonte de alegria.