Amanhã, 25, é Feriado em Moçambique (Aniversário da Luta Armada de Libertação Nacional)


24 de Setembro de 2013 

Celebro esta efeméride moçambicana recordando,    

a 24, os 40 anos da proclamação da independência daGuiné-Bissau (de tão triste evolução), evocando a figura gigante de Amilcar Cabral, e os 46 anos da chegada do Bispo Manuel Vieira Pinto a Nampula que, nesse dia, deixaria mal-dispostos os portugueses que o aguardavam no aeroporto de Nampula e menos entendidos sobre os ventos da história, quando levantou uma criança negra em direcção ao sol, provocando, com tal gesto,  o entusiasmente alarido dos indígenas locais. Gesto profético que lhe custaria muito caro: a expulsão em Abril de 1974: como famigerado traidor à Patria e indesejável em território português!

Mas o tempo foge, mesmo nestas remansadas terras da morna onde, quando estamos fora, pensamos que há tempo para tudo.

 Tive um domingo recheado. Muito diferente do que me é habitual quando estou meio das comunidades – mais numerosas – em Nampula, onde, com uma única comunidade, gasto bem todo o tempo pastoral de domingo. Aqui, comecei com uma eucaristia  no povoado de Salamansa, depois de fazer uns 20 Kms de estrada de montanha, tendo o cenário das altas montanhas escuras e quase rapadas, apesar de estarmos no início do tempo das (poucas) chuvas). Perguntava-me pelo caminho: mas onde está a gente? Subia e descia sem vislumbrar vivalma. Nem pássro. A uns 2 Kms da Baía das Gatas, viro à esquerda e eis-me a chegar a uma aldeia de pescadores. Avanço lentamente, para ver com olhos de ver esta realidade original caboverdeana, enquanto me aproximo da linda capela da comunidade, sobranceira ao mar, em baixo a uns 500 m em linha recta. De ressaltar, na celebração, o excelente coro animado com exultantes violas e uma improvisada maraca na mão do regente. Missa animada! De gente de todas as idades.

Depois corri para a cidade do Mindelo onde deveria celebrar a missa das 10:30 h na Igreja/catedral de N.Srª da Luz, com uma apurado grupo coral que projectava a sua beleza a partir do coro alto que se sobrepõe à entrada da igreja. Perfeição artísitica de cânticos tanto de Portugal como daqui.

Não tive tempo a perder e tive de correr para a aldeia de S.Pedro, aonde se chega passando pelo aeroporto

Cesária Évora. Uma airosa  igreja em construção, cujas peripécias de promessas cumpridas e por cumprir me relataria, hoje, o Bispo Ildo. Ficam-me 2 notas a salientar:
1.       A imponente igreja, já em uso e ainda não acabada (vai indo ao ritmo dos recursos disponíveis) tem ali muito de solidariedade e também, nos alicerces e nas paredes, o esforçado trabalho da comunidade que, à montanha, arrancou toda a pedra;
2.       Enquanto celebrava, via passarem, na rua, magotes de pessoas, sobretudo jovens, que mais pareciam gente sem pastor. Nós, deliciávamo-nos com a veemente profecia de Amós contra os ricos e a advertência de Jesus Ninguém pode servir a Deus e ao dinheiro.

Finalmente, tendo diante de nós o sempre enigmático cenário das montanhas vulcânicas sem vegetação, fomos brindados com um saboroso almoço em casa de João e Joana, os pais da dedicada apóstola desta comunidade, a Alice.

Entretanto, ao sabor da notícia de que o Papa Francisco pensaria em nomear uma mulher cardeal, continuei o trabalho de formação dos cristãos de N.Srª da Luz sobre este modo de sermos todos igreja de gente corresponsável, cada uma e cada uma com o seu papel e a sua função. À voz de um papa que diz que “somos todos iguais”, bem poderia subtitular o meu livro UMA IGREJA DE TODOS E DE ALGUÉM com A Igreja não é só dos Padres. É urgente que não seja. Este é o fermento que trago de Moçambique/Nampula e, enquanto gozo do fraterno acolhimento do Bispo Ildo, partilho com esta Igreja local.