EM JEITO DE DESPEDIDA

1 Outubro de 2013, terça

Em Santo Antão, a ilha mais verde do Barlavento, o verde, embora mais consistente que em S.Vicente e Sal, é, mesmo assim, tímido, fazendo-me sentir saudades do luxuriante verde de Nampula, em tempo de chuvas, ou dos Montes do Guruè, durante todo o ano. Aqui é um verde que, a custo,  brota dos montes acastanhados.


No entanto, embora breve, foi rica a minha estadia:

1º Um acolhimento cordial por 3 jovens servidores da Igreja local que me recordaram a minha passagem por aqui, na altura também de apenas 24 h, em Abril de 2011, sendo, então, pároco O P.José Mario.

 
Padre Adriano Cabralm
actual Pároco de Ribeira Grande e
 Ponta do Sol
Na partilha da mesa e da conversa confirmei a sadia disponibilidade para servirem criativamente a sua Igreja diocesana. Fiquei particularmente sensibilizado pela sua atitude e análise críticas que revelam em relação a muito conservadorismo clerical ressurgente na Igreja católica, com o qual o próprio Papa Francisco, como o temos sobejamente sentido nos media, tem de se confrontar. E a esse conservadorismo emergente e ressurgente não escapam alguns sectores de Portugal e de Lisboa, em concreto, a ponto de já se dizer por aí se o novo patriarca, Manuel Clemente, será capaz de fazer, na sua cúria, o que o Papa Francisco vai já fAzendo no Vaticano!


2º Uma rápida visita à cidade de Ponta do Sol com edifícos de uma traça encantadora onde o ex-libris é, sem dúvida, o edifício da Câmara Municipal, em cuja praça sobressai, também, a igreja, para cuja requalificação o P.Adriano procura soluções e recursos financeiros.



De passagem pelo porto, uma partida de cartas /bisca ou sueca, como lhe quiserem chamar), partilhando a natural, espontânea e sadia convivência desta gente do mar.

Um senão: na cidade não faltam o que, a meu ver, são mamarrachos de linhas arquitectónicas e de cores completamente desajustadas. A Câmara devia velar mais por isto articulando melhor os seus técnicos com a todo-poderosa empresa SPENCER, que, pela sua acção, revela pouca alguma insensibilidade cultural pela beleza antiga e envolvente.

3º Uma presença de serviço religioso na magnífica igreja paroquial, sob o orago de N.SrªdoRosário para onde o P.Adriano me marcara missa para as 18:00 h antecedida de confissões. Foi ocasião de ter a experiência viva das marcas muito tradicionalistas da igreja popular de Cabo Verde. Por um lado, aceder á confissão dos pecados como necessidade de rotina. E isso, tanto em gente nova como idosa.

Mas, por outro, muitas das pessoas confessadas ao longo de 1 hora não ficariam para a celebração da eucaristia onde, por sinal, celebrámos a memória de S.Jerónimo, esse gigante da introdução da Bíblia na vida da Igreja no seu tempo (sec IV – ver aqui .

Apesar do seu insistente aviso na véspera, dia de Festa de S.Miguel Arcanjo, pouca gente respondeu ao convite do P. Adriano para comparecer no encontro onde eu partilharia o livro Uma Igreja de Todos e de Alguém. Contra-partida positiva: foram apenas meia dúzia de pessoas, incluindo os padres e o seminarista Bernardino que manifestaram bem quanto a tradição viva da nossa Igreja em Moçambique/Nampula tem de potencialidades a partilhar com esta Igreja local ainda muito necessitada de se converter a um rosto mais conciliar, menos de super-mercado espiritual de confissões individuais e mais ao espírito comunitário de gente corresponsável. Ficou o desafio a que os jovens padres desta diocese vão partilhar a nossa experiência de Moçambique… Todos poderemos ganhar por razões variadas.