Cabo Verde - Africa?

15 Agosto 2014


Cabo Verde – Simbiose de África e Europa
Cabo Verde: teimosia ou perseverança humana?


Nesta 2ª vinda prolongada a este país insular, já não fui arrebatado, como há um ano, quando aqui cheguei e inaugurei este espaço de partilha e comunicação, pelo encanto da surpresa e do impacto. Já me sinto em casa.

Gente de génio europeu e africano.
Realmente, nem brancos nem pretos; os caboverdeanos e as caboverdeanas são eles mesmos. Únicos. Se o cabelo da maioria os marca como africanos, os olhos e a tez de muitos os revelam como europeus de muitas latitudes e longitudes. Sobretudo a surpresa dos olhos grandes e azuis, estampados em rostos mais amplos e apelativos.
Frei Pedro - Em Cabo Verde há 55 anos

 Diz-me o velho Frei Pedro que são descendentes dos piratas que aqui aportavam e afligiam o povo.







Por isso, as ruas de Ribeira Brava (S.Nicolau)  para facilitar a defesa, ficaram mesmo muito estreitas.




O Povo caboverdeano, é, culturalmente, ele mesmo: original e irrepetível. A sua morna, nestes dias homenageda nacionalmente, é disso exemplo. Sinto-a aparentada ao fado português, mas indelevelmente marcada pelo latente ritmo africano, mágico, exultante nas mais íntimas fímbrias do corpo e da alma, exalando das vozes etéreas como a de Cesárea. E não só.


Menos genuínos me parecem os festivais que agora por aqui se organizam para arrastar multidões. Parece-me mais arrasto do que lucidez. Tenho muitas dúvidas sobre os efeitos da música ensurdecedora que mobilizam milhares e milhares, como aconteceu nesta noite no Tarrafal (o daqui, de S.Nicolau), incomodando toda a vila até às 7 da manhã, e que fui acompanhando pela RNVC (radio nacional). Sem dúvida que se trata de Shows que arrastam multidões... Mas pergunto-me se o efeito será o crescimento cultural incutido por Cesárea e Ildo Lobo (para exaltar os que já partiram e deixaram marcas), ou se não resultará, num embrutecimento generalizado, na manipulação, um pouco como o circo do Império romano, para iludir os ansiosos por futuro....






Em Cabo Verde, cada socalco, cada palmo de terra cultivada, é conquista heroica do génio e do suor humano.








As cabras ensinaram-nos a comer pedra







Com este post, quebro a resistência meditativa dos 15 dias que já aqui levo, e durante os quais, diante da severidade ambiental , me pergunto: Cabo Verde é teimosia ou perseverança humana?



Ovídio Martins, que conheci literariamente após o 25 de Abril e agora me surge a talho de foice, já o tinha expressado:
O mar transmitiu-nos a sua perseverança,
Aprendemos com o vento a bailar na desgraça,
As cabras ensinaram-nos a comer pedra
para não perecermos.

Somos os flagelados do vento-leste!

Morremos e ressuscitamos todos os anos
para desespero dos que nos impedem
a caminhada
Teimosamente caminhamos de pé,
num desafio aos deuses e aos homens,
E as estiagens já não nos metem medo,
porque descobrimos a origem das coisas
(quando pudermos!...)

(in http://literaturacolonialportuguesa.blogs.sapo.pt/16750.html)












Entretanto, Cabo Verde independente já não é o abandonado que o mesmo poeta aponta. Conquistou o mundo da solidariedade internacional. 











Sinto que as estradas que rasgam estas montanhas e nos encurtam, hoje, distâncias anteontem ontem julgadas intransponíveis, têm muito a ver com ela.