Natal 2016




Merecer a Paz!
 Embrulhados na guerra, ansiamos pela Paz!

Quando, há meses, o Governo, finalmente, anunciou a aceitação dos mediadores nacionais e internacionais para o diálogo, mais uma vez inconclusivo, na Comissão Mista, com os representantes da Renamo, embora já céptico (por razões mais que evidentes para qualquer acompanhante do processo político moçambicano dos últimos 5 anos), mantinha uma pontinha de esperança e dizia com os meus botões ”talvez desta seja mesmo!”. 

E tentava convencer-me ruminando razões:
1ª Vamos ter a presença de, pelo menos, 4 qualificados católicos. A União Europeia surpreendeu-nos, optando por enviar 2 católicos da Comunidade de Santo Egídio: Mário Rafaelli, já experimentado nestas lides e nestes espaços, porque integrante das conversações que, em 1992, conduziram ao Acordo Geral de Paz; e o Padre Ângelo Romano.
A Santa Sé, por sua vez, indicou o Núncio Apostólico no Maputo, Edgar Peña Parra, e o Bispo João Carlos, Secretário da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM).
 Gente de elevado peso simbólico!

2ª Como católicos se assumem os dois chefes das partes em conflito militar: o Presidente da República, Filipe Nhussi e Afonso Dlhakhama, líder da Renamo.
Eram razões bastantes para termos dado, ao menos, o benefício da esperança!

Mas eis que, sem surpresas, mais uma manobra negativa surge da parte do governo: não precisamos de mediadores! Parece-me que voltamos – quase – à estaca zero.

Mais, este retrocesso, continua a ser, para mim, um profundo desafio à esperança! Conhecendo, como conheço, tantas pessoas de coração nobre no Partido Frelimo, fico na expectativa de que estas consigam tomar conta do processo político e marginalizar os duros e empedernidos que teimam em querer impor a via militarista angolanizante a este País.

Mantenho-me vigilante na esperança de que a celebração do Natal, na casa do Presidente da República, tenha mais densidade cristã do que politizante. Que ele possa dar mais acolhimento às genuínas mensagens de Paz e recuse, de uma vez por todas, os conselheiros belicistas dos generais – todos falam deles - que impõem a dor e o sofrimento a Moçambique!

Mantenho-me vigilante na esperança da Paz, apelando a todos os pastores cristãos – e o mesmo apelo endereço aos notáveis muçulmanos – que se assumam como coerentes defensores e conquistadores da Paz.

Apelo, particularmente, aos Bispos da minha Igreja Católica, que assumam, por inteiro, e mesmo com risco de vida, as suas responsabilidades: ponham na rua os seus milhares e milhares de fiéis em procissões de Paz! Assumam a herança de Vieira Pinto e de Jaime Gonçalves com coragem e determinação. Os homens e as mulheres de Paz, incluindo os dirigentes e militantes da Frelimo, os genuinamente amantes da Paz, precisam deste testemunho de coragem e fidelidade! Contra o medo que paralisa. Com o Profeta Isaías dizei aos corações atribulados: “não temais! Eis o vosso Deus que vem”. Gritemos, em uníssono, no dia de Natal ou no dia mundial da Paz: “Eis o nosso Deus de Paz! Exigimos a Sua Paz!”.

Se não temos a Paz, é porque ainda a não merecemos! Ainda não fomos até ao limite das nossas forças na construção e no testemunho da Paz. É a Hora da Cruz, fonte de Vida e de Paz!