Ciclones - E depois?
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Figura 1 |
Mal ouvi o anúncio da chegada do ciclone IDAI, logo me
senti invadido pela angústia da visão apocalíptica que imaginava: catástrofe de
destruição e multidões de pessoas, sobretudo pobres, para as quais os
insistentes anúncios da rádio seriam inúteis. Inúteis porque nenhuma defesa
poderiam ter contra tamanha tempestade, tão frágeis eram as suas casas.
Reforçar portas e janelas? Mas com quê e para quê se seria a casa inteira a ser
varrida pelo vento e pela chuva?
E a tragédia concretizou-se. E assim foi. Centenas de mortos
nas enxurradas e milhares de casas destruídas pelas suas frágeis raízes
(alicerces inexistentes) e ainda mais frágeis materiais de construção.
Mas também construções julgadas resistentes foram derrubadas por completo, como as Igrejas da cidade da Beira de que destaco a emblemática (para mim, pelo menos) a do Sagrado Coração de Jesus do Macúti.
Aqui foram presos, em Janeiro de 1972, pelo poder colonial, o então pároco – P. Joaquim Teles Sampaio – e o seu coadjutor, P. Fernando Mendes, na sequência de uma bem montada armadilha da PIDE sobre o acesso ou não da Bandeira Nacional (a portuguesa, claro) a uma cerimónia de escuteiros.
Já era a perseguição ao Bispo Manuel Vieira Pinto, então Administrador Apostólico da Diocese.
Tamanha destruição do IDAI, convocou a solidariedade nacional e internacional dos quatro cantos do mundo e de gente de todas as sensibilidades religiosas e políticas.
Obviamente, o trabalho que resta para refazer as estruturas físicas
e a alma dos mais afectados em Sofala, Manica, Tete e Zambézia é enorme.
Novos critérios de
construção?
É o que se impõe. Desde já, sabendo, como sabemos, quão
exposto está todo o território de Moçambique a estas intempéries, necessário se
tornaria que fossem repensados todos os critérios de reconstrução.
Que as universidades, frente de investigação para um conhecimento novo, se dediquem com afinco a esta questão. Os arquitectos e os engenheiros têm aqui grandes desafios.
Que as universidades, frente de investigação para um conhecimento novo, se dediquem com afinco a esta questão. Os arquitectos e os engenheiros têm aqui grandes desafios.
Não basta que as populações se afastem das chamadas zonas de
maior risco, mais propensas a novas invasões de cheias. É necessário que as
novas construções fiquem mais resistentes a futuras provações da “Natureza”.
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Lar de Natikiri |
providenciei para alunos/as pobres em Nampula, são, provavelmente, das mais resistentes aos ciclones.
Estou convencido que não haverá ventania que posso arrastar o tecto feito do mesmo material das grossas paredes.
Não sou técnico desta coisas mas imagino que algumas adaptações técnicas, sobretudo em portas e janelas, e outros reforços de resistência sejam necessárias,
Se
muitas outras vantagens não tivesse este tipo de casa (a climatização, por
exemplo, mantendo uma frescura quase permanente), parece-me que a resiliência
dos seus tectos já deveria merecer alguma atenção aos técnicos
da construção agora envolvidos na reconstrução de Sofala, onde, aliás, graças à
CPMZ, já existe um embrião destas construções na sequência das inundações de
2001.
Aqui fica a proposta. Os
competentes construtores, visíveis nas fotos, estão, felizmente, todos vivos,
em Nampula, e, certamente, disponíveis para serem contratados na disseminação
desta técnica, seja aonde for no país.
São as casas apelidadas por mim e os meus amigos que as
conceberam dos 3 Bs: Boas! Bonitas! Baratas!